Há uma sutil diferença entre ser vulnerável e estar vulnerável. E há também uma relação, nessa diferença, de se estabelecer, como é comum, a culpa no vulnerável pelo seu estado e não pelo fator externo que o atormenta.
Se você caminha por uma rua deserta, sujeito a algum contratempo, e se ele acontecer, deve-se a você estar vulnerável pela escolha ou ser vulnerável por uma questão de a própria cidade ou lugar não lhe oferecer segurança?
Assim como indivíduos, classes também podem estar em uma situação de vulnerabilidade. Por opção individual ou do grupo, simples gosto em usar determinada roupa, querer uma liberdade para um comportamento fora dos padrões tornam as pessoas vulneráveis, e nesses casos apontamos uma direção: mostrar o que se é nos torna vulneráveis porque é nossa culpa ou ela está no outro?
Ter situações onde pessoas ou grupos apresentam estado de vulnerabilidade está mais na responsabilidade da sociedade como um todo do que no indivíduo, dito vulnerável.
Mas, o que nos torna vulneráveis?
Sob muitas circunstâncias, somos vulneráveis em todos os momentos da vida. Quando muito jovens somos vulneráveis por não ter experiência de vida e não conhecer pessoas, porque somos vítimas de nossas curiosidades. Ou quando em idades intermediárias tentamos conquistar alguma coisa fora do alcance e caímos, literalmente, do cavalo. Ou quando mais idosos, e não tendo as formas físicas de defesa, não podemos lutar contra o imponderável, contra aquilo que não está ao nosso alcance.
Mas, ao mesmo tempo em que somos vítimas da vulnerabilidade, também temos responsabilidade sobre as vulnerabilidades do outro. E se somos coesos na defesa dos vulneráveis, também estamos defendendo a nossa vulnerabilidade. Somos uma corrente que, embora pareça em um determinado momento ser muito forte, demonstra nossa fraqueza quando expostos, e justamente por aqueles os quais julgávamos participantes
da nossa corrente.
A sociedade desigual cria vulneráveis, e também se torna vulnerável quando os cria, porque os instintos de defesa atuam tanto de um lado como de outro. Portanto, a solução está em que as razões das vulnerabilidades venham à tona e se mostrem ao sol para que sejam expurgadas.
Preconceitos são as razões mais evidentes das vulnerabilidades, a indiferença, a falta de compreender o outro, ou simplesmente a não oferta de alternativas para que indivíduos e classes possam se posicionar em igualdade e não estarem vulneráveis.
Pensemos muito sobre os vulneráveis, sobre as situações em que estão colocados, até porque as vítimas podemos ser nós.