Chamou-me a atenção uma transeunte reclamando de um jovem que estava desempregado, e reclamando, a expressão: Quem mandou não estudar? De fato, me perguntei depois: Afinal? Quem mandou ele não estudar?
Talvez tenha faltado alguém acordá-lo, pela manhã, e dizer: Filho, você vai seatrasar para a escola! Vamos, vamos, para de enrolação e vamos sair dessa cama e já para a escola! Ou talvez: Filho, aqui está sua merenda ou o dinheiro da merenda, e o dinheiro da passagem. Ou então: Sua roupa está limpa esperando, vai para a escola ou seu pai vai conversar com você hoje à noite?
Se de fato tivesse tudo isso não haveria desculpas. Afinal! Alguém mandou ele estudar e se preocupou com isso.
Mas, voltando à observação: Alguém mandou ele não estudar? Talvez o pai, que precisa cuidar da terra e não tem mais ninguém, e na falta da colheita não haverá comida na mesa, tenha dito: Preciso de você aqui, escola não dá, estudar para quê? Ou a mãe que precisa de um filho para tomar conta dos menores, e não dê
importância a mandar estudar. Muitas coisas mandam alguém não estudar: a fome, a falta da família, a própria condição social, e, no pior dos mundos: Não vou ser nada mesmo, para que estudar?
As forças para o desestímulo e ir estudar são muitas. A escola de péssima qualidade, a merenda fraudada que poderia ser bem melhor, a competição desigual com aqueles que têm melhores condições, o professor mal pago, muitas coisas mandam alguém não estudar, e alguém que os mande estudar.
Da mesma forma que ver uma jovem com um filho no colo e dizer quem mandou transar, e, na mesma hora, se constrói uma história destrutiva para ela, porque é mais confortável aceitar a realidade própria do que tentar entender a real realidade, dizer “quem mandou não estudar” é ignorar a história do outro. A negação é a zona de conforto do alienado e do meritocrata.
Caberia a pergunta para aqueles que gostam de questionar: E se ninguém tivesse mandado você estudar? Você teria?
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