Arrumamos nossas ideias, entrando pela mente desconhecida de muitos mundos, quartos com lugares iluminados, sempre requisitados na lembrança,
lustrados, polidos, rearrumados, quando reconstruímos seguindo as instruções do presente, visualizando um passado que poderia ter sido.

Em lugares especiais guardamos nossos sonhos; uma prateleira alta, que nos faz erguer nas pontas dos pés, suspensos na ficção, no irreal, pairando sobre nuvens, a cuja leitura nos entregamos como o balançar da rede no quintal ensolarado, com pássaros cantando, e pequenos animais procurando o alimento, despreocupados.

São nossos pequenos paraísos, terra do nunca acontecerá, mas que teimamos em visitar como o livro frequentemente consultado, leitura obrigatória
dos momentos difíceis que a realidade teima em prefaciar e anunciar o final antes do fim.

Ao alcance das mãos, a consulta rápida de experiências anteriores, bem-sucedidas ou não, que nos prestam o favor, ligam o alerta da emergência, do perigo, ou da oportunidade que não se deve deixar passar, do filme com o final previamente anunciado, do cavalo que passa encilhado mais uma vez.

Tem o salão onde damos nossas festas, onde somos reis. Pensamentos de fatos que vivemos, que nos fazem respirar tranquilamente, diante da ignorância do outro, que tornamos amantes, inimigos ou aliados, reinado indiscutível onde nossas experiências podem mostrar a que vieram, sucesso em reuniões culturais, o lampejo da resposta na ponta da língua, que desce como a luz augustina, rompendo barreiras, e chegando límpida.

Mas, o tapete enrolado em um canto, empoeirado, turvo, esquecido, grande o suficiente para não encontrar um armário mais discreto, uma porta que o esconda, guarda o que jogamos para a sua proteção, indigno de nos representar, guardadouro de nossas infelicidades, da palavra dita inconvenientemente, do arrependimento que não pode mais ter volta, frutos dos nossos orgulhos, caros demais para serem resgatados e confessos de nossas falhas.

Os porões das nossas vidas, depositários de nossos segredos, dos nossos pecados, abertos aos olhos recriminadores de Deus, a quem confessamos; sem saber, precisamente, se fomos perdoados e as dúvidas nos afastando da normalidade da vida.

Quartos escuros, imunes à luz do sol, trêmulos ao toque da luz do abajur de luz colorida, tentando dar alguma cor ao teatro preto e branco da nossa incapacidade de ter agido corretamente, no momento certo.

Os quartos de nossa mente têm sua luz própria, alguns lugares escondidos e proibidos de entrar, outros claros como a luz do dia. Como arrumar tantas diferenças, traços inconfundíveis da nossa personalidade?

Como arrumar cada coisa em seu lugar, resgatando nossos débitos? Como dar brilho ao que não queremos que apareça, impedindo a limpeza das nossas
ideias e permitir que nossa mente receba novos incentivos.

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