Não existe silêncio mais rico do que o homem, a mulher ou a criança, que se senta na calçada e, desconsoladamente, olha as pessoas que passam, cada uma cuidando da sua vida. O que passa no silêncio deles, na mudez, no
ar desanimado?

Os silêncios escondem todas as respostas das perguntas que fazemos, quando os olhares se encontram. Eles fazem o balanço de suas vidas? Se questionam por que não são os nossos passos, nossas palavras, aquelas que deveriam fazer parte da vida deles?

Quando os nossos olhares se encontram, sabemos, dentro de nós, as respostas para os silêncios dos olhos que nos olham. Pedem alguma coisa, gostariam de não ser o que são, seus silêncios escondem mágoas, raivas, fantasias?

Silêncios e mãos estendidas escondem mais coisas do que supomos. Nem sempre são derrotas, são universos que se distanciaram no momento em que as infâncias não se encontraram com brinquedos, camas aquecidas, abraços de chegadas, beijos de partidas, cheiro de lar, comida na mesa, olhares distantes nas distâncias que existem entre infâncias que nunca vão se encontrar. Apenas serão esbarrões, imprecações contra a imundície das ruas, e, nelas, se encontram os andrajos habitados por corpos sujos, motivos de preconceitos e rótulos, no mundo de adultos.

Quanto silêncio existe nos olhos daqueles que das calçadas nos veem. E os nossos silêncios, momentos de intervalos entre conversas e pensamentos daqueles que passam, congelados nos olhares silenciosos, nos dizem que silenciar para eles é um silêncio que cala dentro de nós.

São fracassados, que destoam do barulho das festas, das conversas animadas nos bares, passeando pelas calçadas, interrompendo almoços, jantares, namoros, e quando se aproximam, nosso silêncio é a única resposta a uma pergunta tímida, servil. Eles se afastam em silêncio e nosso barulho volta a ser animado, e guardamos os constrangimentos no silêncio de nós.

Não opinar, não arguir também é uma forma de silenciar, como se este silêncio fosse um conforto, um guardado prático e questionável. Nossos silêncios não são iguais. Para cada silêncio existe uma pergunta que fica sem
resposta, apesar de sabermos qual é.

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