Viver isolado, fisicamente, não significa viver isolado de tudo. A vida continua e continuamos a ser ativos no pensamento, nas opiniões e nas reflexões quando o mundo nos questiona. O isolamento físico está nos tirando da memória que o mundo continua funcionando, a natureza acorda todos os dias, os pássaros cantam e seguem sua rotina de vida.

Quando estávamos estressados com alguma coisa, aborrecido por algum acontecimento, uma desavença pessoal ou profissional, o desgaste físico de uma
caminhada obrigava a mente a se deslocar do foco do problema, o pensamento fluía melhor, as decisões iam se acomodando, e isso nos ajudava a refletir.

A falta desse espaço físico nos transporta para o espaço virtual, para o mundo abstrato da internet. E, nele, acabamos por nos descobrir discutindo com gente real e gente virtual (os robôs). Isso eu detectei, pessoalmente, experimentando algumas estratégias: sair dos comentários onde muitos debatiam contra alguém que não rebatia, postando, fora do post que era criticado, grosserias, propositalmente, e não obtendo reações daquele que iniciou a tempestade de críticas.

O que me levou a pensar que a provocação tem uma tática deliberada de acontecer. Irritar, dividir, falsamente questionar. Mas, não é possível fazer, hoje, uma
caminhada, olhar paisagens, ver vitrines, observar a vida acontecendo para nos distanciar disso. Vivemos isolados, total ou parcialmente, e isso nos limita quando a questão é desestressar.

Existe a famosa fórmula de contar até dez para não explodir. No entanto, essa contagem funciona apenas para contar até dez e começar de novo a responder. A simples contagem não resolve. Em uma discussão inócua e desgastante seja nas redes sociais, ao lidar com pessoas, colegas de trabalho, etc., essa contagem não tem o menor efeito. Apenas adia nossa ansiedade.

E que tal, em vez de contar até dez em silêncio, não provocar o oponente, virtual ou físico a esperar por nossa reflexão? Quando pedimos CINCO minutos de atenção para poder expor nossos argumentos, o que é impossível de acontecer, poderíamos pedir CINCO minutos para responder, para contestar.

Se, diante de uma situação que nos provoca a ira, pedirmos a nós mesmos CINCO minutos para responder ou diante de uma provocação você pensar que daqui a CINCO minutos eu responderei, e depois dos CINCO minutos pedir mais CINCO, mais CINCO e por aí em diante, não seria crível que, nessa caminhada virtual, nossa angústia não se converta em uma nuvem difusa, e que se perca no tempo?

Como esses CINCO minutos nos faz bem! Nos afasta do tema, e nos faz pensar que, se aquele assunto fosse, realmente, importante ele continuaria a existir. Se continuar ele merece uma resposta, merece uma atitude. Se não, pode esquecer, e os CINCO minutos não serão mais necessários.

Em alguma crônica anterior eu escrevi sobre portas. Existem portas que não merecem ser abertas, porque, de antemão, sabemos que há um deserto depois delas. As portas, realmente, interessantes, têm um perfume, um cheiro que nos atrai, e haverá jardins depois delas.

Bastam CINCO minutos para que um isolamento mental contra a ignorância aconteça. Pense nos CINCO minutos.

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